Meritocracia na educação: injustiças e descasos
Declev Reynier Dib-Ferreira
Assim como em todas as outras categorias, nem todos os professores são bons profissionais. Normal.
Partindo deste princípio, a intenção declarada das secretarias de educação ao implantar o fatídico “bônus por desempenho” é “premiar os bons profissionais”.
Mas a educação não é um trabalho como outro qualquer, ao contrário do que pensam os economistas e administradores colocados, à fórceps político, nas cadeiras do poder.
Medir o “desempenho” de um trabalhador comum, como um economista, um administrador, um pedreiro ou um gari, por exemplo, é fácil: quantas horas trabalhou, quanta produção demonstrou, quantos carimbos batucou, quantas cartas enviou, quantas ruas limpou, quantos formulários preencheu, quantos contratos fechou, quantas botas lambeu…
Mas, como medir o desempenho de um professor?
Pela “aprovação”? Basta aprovar todos, então!
Ah,sim… pelas notas de seus alunos em provas como Enem e índices como Ideb!
Ora, pra começar, o IDEB também leva em conta, com peso grande, a reprovação x aprovação.
Por outro lado, como medir exatamente o real desempenho dos professores em escolas com índices e notas bem diferentes, mas que uma se localiza em meio a uma zona de conflito, violenta, com alunos bem pobres e outra se localiza em um bairro mais estruturado, sem a opressão da violência?
Acham que não há diferença? Então leiam este artigo:
Vamos falar de prêmios meritocráticos e injustiças?
Vejamos um caso que pode ser real, vocês decidem se é ou não, eu não vou dizer, digamos que eu inventei…
Era uma vez um professor que pode ser considerado “ruim”. Ele explica, mas os alunos não entendem. Não tem muita didática. Não tem “manejo de turma”. Não tem uma boa dicção.
Toda aula dele é um terror para os outros professores da escola, pois diversos alunos – mormente os piores e mais bagunceiros – saem de sala a sua revelia, andando pelos corredores, ficando nas portas das outras salas, atrapalhando as outras aulas.
Este professor se apaixona por uma aluna de 15 anos, que, sabia ele, era apaixonada por ele desde os 13.
Sim, isso mesmo, né Regina?
Ele leva a paixão adiante, dando, inclusive, um beijo na aluna dentro da escola, em uma sala vazia.
O professor? 44 anos.
O estagiário dele também se apaixona pela mesma aluna, gerando uma espécie de “concorrência”, onde também se encontra o namorado dela. Sim, ela tinha namorado.
O pai e a mãe ficam sabendo disso e vão à escola querendo matar o professor. Este se diz apaixonado pela aluna, que quer casar com ela, assumir o namoro…
Faz-se reunião com o professor com a direção da escola, onde ele confirma tudo, inclusive o beijo. Leva-se o caso à CRE.
Abafa daqui, abafa dali e a própria mãe não quis registrar queixa – até por conhecer a filha que tinha… [sem maiores comentários sobre isso].
O professor, por ordens superiores, sai da escola, sendo transferido a outra unidade escolar.
Certo dia ele quer voltar, mas a direção, prudente, é contra e o convence que “não seria muito bom”.
Este professor vai parar em uma das “melhores” escolas municipais, “coincidentemente” localizada no coração da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde mora a classe média e alta.
Esta escola tem o melhor desempenho no rank que compara as escolas pelas notas em provas de Português e Matemática.
Os professores desta escola – visto que, na cabeça torta dos gestores, são os “melhores” da rede – ganham uma viagem para Nova York com tudo pago, como uma das “ações para valorizar ainda mais o professor”.
Este professor da nossa historinha, então, ganha um prêmio por ser um dos “melhores” da rede, indo para nova York com tudo pago com o dinheiro da educação.
A culpa deve ser minha.
Abraços,
Declev Reynier Dib-FerreiraPéssimo professoR
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